A verdade libertará

Freedom

Antes de continuarmos leia João 8.31-47

O tema do pai continua neste trecho final da festa das barracas. No trecho anterior nós vimos que Jesus assumiu o papel de Filho Pródigo e foi atrás de seus irmãos afundados na pocilga do tesouro do Templo para ajudá-los a se lembrar da casa do Pai e incentivá-los a voltar. Como eles se sentem muito bem com as “bolotas dos porcos” (Lc 15), rejeitam a mensagem de Jesus.

Os dirigentes político-religiosos de Israel rejeitam a mensagem de Jesus pois não se sentem filhos de Deus, ou melhor dizendo, eles de forma alguma veem a Deus como um Pai. É por isso que esse trecho se inicia com uma informação básica dada aos dirigentes que sinalizaram interesse de se juntar a Jesus com saudades da casa do Pai: “fiquem firmes nas minhas palavras, pois assim vocês vão conhecer a verdade e ela vai libertar vocês”. Se eles são verdadeiramente discípulos de Jesus, devem fazer aquilo que Jesus ensina: dedicar-se à luta pela vida das pessoas. Não se trata, como se pode ver, de uma fé abstrata, num conceito ou doutrina, mas da adoção de um novo estilo de vida. Deus é a completa expressão da liberdade, pois ele é soberano para decidir sobre qualquer coisa, e o objetivo de Jesus é fazer os seres humanos livres como Deus para poderem decidir que rumo darão às suas vidas.

Jesus chama de mentira tudo aquilo que é contrário a tal projeto. Qualquer coisa que implique no sofrimento, na morte e na destruição do mundo é mentira. Os dirigentes se achavam livres de tudo isso, e transformaram a mentira em que viviam em sua verdade. Usavam conceitos bíblicos do Antigo Testamento para embalar suas mentiras, como fez o presidente do Brasil eleito em 2018, que baseou toda sua campanha em milhares de Fake News, mentiras as mais deslavadas, e em seu primeiro discurso depois de eleito cita descaradamente este versículo: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Entretanto, “nunca se mentiu e se enganou tanto como hoje se mente e se engana no Brasil” (Ruy Fausto, Revista Piauí, janeiro de 2019, pag. 29). Ora, se a verdade é pré-requisito para a liberdade, então, este que se afunda na mentira está totalmente privado da liberdade. Só o que ele pode fazer é liberar a violência das armas, tirar os direitos dos pobres, roubar a nação e destruir o meio ambiente. Tudo isso com o apoio da casta religiosa de dirigentes que chama a si mesma de evangélica.

Só Deus é verdadeiramente livre, e só pode ser igualmente livre quem dele for filho ou filha. Entretanto, para ter Deus como pai/mãe, é preciso renunciar outros três tipos de filiação. A primeira filiação a ser superada é a das certezas identitárias (33-41a), tais como o fator biológico, cultural, racial, nacional, ou de outra natureza. Os dirigentes judeus se achavam filhos de Abraão, e como tal nunca seriam escravos de ninguém. Mas Jesus lhes mostra que Abrão teve dois filhos, e um deles, o filho da escrava, também era escravo. Livre mesmo só o filho da promessa, Isaque. Ser filho de alguém significa refletir as marcas dessa filiação. Só é filho de Abrahão quem demonstra em seus atos essa filiação, isto é, que reconhece a Jesus como a própria expressão de Deus. Esse tipo de falsa filiação produz o sectarismo, isto é, a formação de castas protegidas em sua imaginação, e que para afirmarem sua condição, precisam, o tempo todo, desprezar os que não pertencem a seu grupo.

A segunda filiação é da prostituição (41-43). Quem joga essa cartada são os próprios dirigentes, num ato de denegação, isto é, de “entregarem o jogo” através de uma negação precipitada. Exemplo: uma mãe reúne seus filhos e diz: “certas coisas nós nunca podemos fazer…”, e um dos filhos a interrompe e diz “Eu não roubei os biscoitos”. Denegação é uma confissão na forma de uma negação.

Ser filho da prostituição significa, na tradição israelita, viver na idolatria. Na prática, é a adesão a um deus falseado: a falsa imagem de Deus é aquela que oculta sua qualidade de Pai, ou seja, o seu amor para com o ser humano e o seu desejo de lhe dar vida plena. No lugar dessa imagem, coloca em seu lugar a imagem de Deus como um soberano que submete e acusa o tempo todo. É essa imagem que Jesus chama de “Mentira” (v.44), pois se opõe à verdade que Jesus trouxe. Claro que a imagem de um Deus opressor legitima a opressão dos dirigentes. Muitos são filhos desse ídolo e pensam que esse ídolo é Deus, por isso dizem com a boca cheia: “somos filhos de Deus”. O problema é que por trás desse ídolo existe algo pior do que o próprio ídolo, e essa é a outra filiação.

A terceira e mais grave filiação é ser filho do Inimigo (44-47). O termo DIÁBOLOS traduz para o grego a palavra hebraica SATAN que significa “o adversário”, aquele que acusa diante de Deus os seres humanos, conspirando para sua ruína, destruindo assim a obra divina. Ter o Inimigo por pai é o oposto a ter Deus como Pai/Mãe, e significa agir de modo contrário ao desejo de Deus. Essa filiação se traduz no egoísmo e ambição de riqueza e poder e se caracteriza por 1) o homicídio (v.44), isto é, buscar a morte e não a vida, como foi o caso de Judas, e como é o caso do Bolsonaro; 2) a mentira: o engodo, o embuste, a ideologia que se constituem no maior obstáculo à fé, e se apresenta em quatro graus: a) a cegueira dos que veem os sinais mas não os compreendem; b) os que aceitam Jesus como messias triunfante terreno e desejam sinais portentosos mas não aceitam a morte por amor; c) os que não abrem mão de sua doutrina (Lei) como Nicodemos que não é inimigo mas não faz adesão a Jesus como o Cristo; d) os que utilizam a ideologia como arma de dominação: o pecado (v.34); 3) o roubo: quem tem o Inimigo por pai é ladrão e corrupto como ele, pois ama, acima de tudo, a riqueza.

Só renegando esse três pais (a descendência, a falsa imagem e o Inimigo) que uma pessoa pode voltar a querer ir para a casa do Pai como fez o Filho Pródigo. Conhecer a verdade é entender tudo isso, e ser livre da mentira, do pecado e da morte.

Texto de Pr. Orivaldo Lopes Jr

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