Circula nas redes sociais a informação de que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desenvolveu uma vacina brasileira para a Covid-19 em “sigilo”, com o apoio de cientistas de Israel. Segundo o post, esse imunizante já foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e a previsão do governo é de entregar seis milhões de doses por semana. Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação:
A informação analisada pela Lupa é falsa. Ao contrário do que o post afirma, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) não desenvolveu nem está desenvolvendo uma vacina brasileira com o apoio de cientistas de Israel. Por WhatsApp, a assessoria do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fiocruz (Bio-Manguinhos) negou o boato.
Neste momento, a Fiocruz produz, em parceria com a biofarmacêutica AstraZeneca, o imunizante para Covid-19 da Universidade de Oxford. O investimento inclui não apenas os lotes de vacinas, mas também a transferência de tecnologia para que a produção possa ser completamente internalizada e nacional. O anúncio do acordo foi feito em junho de 2020.
Também em junho do ano passado, o Ministério da Saúde anunciou que aceitava a proposta de acordo de cooperação no desenvolvimento tecnológico e acesso do Brasil à vacina da Oxford. O texto previa a compra de 30,4 milhões de doses, no valor total de U$ 127 milhões, incluídos os custos de transferência da tecnologia e do processo produtivo da Fiocruz.
O acordo entre a Fiocruz e a AstraZeneca foi firmado em setembro do ano passado, o que garantia o acesso a 100,4 milhões de doses do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para o processamento final (formulação, envase, rotulagem e embalagem) e controle de qualidade, ao mesmo tempo em que garante à Fiocruz a transferência total da tecnologia.
Em fevereiro, a Fiocruz recebeu as primeiras remessas do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), importadas da China, para a produção de vacinas em solo brasileiro. A previsão da fundação é de entregar cerca de 6 milhões de doses por semana, até atingir o total de 100,4 milhões previstos no contrato com a AstraZeneca.
“Única vacina brasileira realmente aprovada pela ANVISA (…)”
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FALSO
A informação analisada pela Lupa é falsa. Até o presente momento, não há nenhum imunizante brasileiro para Covid-19 aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso emergencial ou definitivo.
Segundo a Anvisa, no momento, há três vacinas brasileiras sendo desenvolvidas: a do Centro de Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Fundação Ezequiel Dias (Funed), cujos estudos estão em fase pré-clínica, quando são feitos testes em animais; a vacina Versamune-CoV-2FC, desenvolvida em parceria com a PDS Biotechnology, dos Estados Unidos, Farmacore Biotecnologia Ltda e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), que ainda está em análise na Anvisa para iniciar estudos no Brasil; e, por último, o imunizante UFRJ-Vac, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que também está em processo para iniciar estudos.
Entre as vacinas que já receberam o registro, definitivo ou emergencial, estão a da Astrazeneca/Oxford, desenvolvida no Brasil com o apoio da Fiocruz, que teve seu registro definitivo aprovado em 12 de março. Em 23 de fevereiro, o órgão já tinha liberado o registro do imunizante da Pfizer. Anteriormente, em 17 de janeiro, a Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial das vacinas CoronaVac e da AstraZeneca/Oxford.
“Agora é tarde os petistas, esquerdistas e centro esquerdistas só agora estão sabendo inclusive do Maior Parque Industrial da América Latina (…) onde só entra quem estiver autorizado pelo General Hamilton Mourão. Fotos nem pensar”.
Trecho de texto compartilhado no WhatsApp
FALSO
A informação analisada pela Lupa é falsa. O Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (Cibs) da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz) ainda está em fase de construção. Quando ficar pronto, deverá ser a maior fábrica de vacinas e fármacos da América Latina. Além de ainda estar em construção, não há nenhum tipo de autorização de acesso exclusivo por parte do vice-presidente, Hamilton Mourão. Em janeiro deste ano, reportagem da Veja Rio mostrava o terreno onde ficará a unidade.
O Ministério da Saúde e a Fiocruz lançaram, em fevereiro deste ano, o edital de licitação para construção do complexo. Os investidores interessados têm prazo de 120 dias para apresentarem suas propostas. Após a conclusão da licitação, com a homologação do vencedor e a assinatura do contrato, será dado início à construção no segundo semestre de 2021. O terreno do Complexo já conta com terraplenagem, estaqueamento dos prédios, construções dos blocos e cintas e compensação ambiental realizados com investimentos do Ministério da Saúde, assim como a aquisição dos principais equipamentos de produção.
Segundo o edital, o complexo irá produzir vacinas e biofármacos que tratam doenças crônicas, raras, autoimunes e oncológicas, além de viabilizar a produção de novas vacinas, como a dupla viral (sarampo e rubéola).
A fábrica de vacinas já havia sido anunciada pela Fiocruz em outubro de 2019. Ou seja, a informação de que a construção do complexo foi mantida em “sigilo” não procede. Para aumentar a capacidade de produção de vacinas, a entidade está construindo o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde num terreno de 580 mil m², localizado no Distrito Industrial de Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro. O custo total estimado é de R$ 3,4 bilhões.
Checagem similar foi feita por Aos Fatos, Boatos.org, E-Farsas e Estadão Verifica.
Esta verificação foi sugerida por leitores através do WhatsApp da Lupa. Caso tenha alguma sugestão de verificação, entre em contato conosco pelo número +55 21 99193-3751.
Via: Agência Lupa