Em vídeo que circula nas redes sociais, o médico Luiz Cristiano Maciel Cardoso, de São Gabriel (RS), afirma sem apresentar provas que curou pacientes com Covid-19 com o uso do medicamento flutamida, indicado para tratamento de câncer de próstata . O Cremers (Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul) informou que a alegação é falsa, uma vez que não há evidências científicas de que o remédio seja eficaz contra a infecção.
A Santa Casa de Caridade de São Gabriel, onde Cardoso trabalha, disse que desconhece o tratamento propagado pelo médico nas redes sociais ou que ele tenha curado pacientes nas suas dependências com o uso da droga. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o único medicamento com indicação aprovada em bula para o tratamento de Covid-19 no Brasil é o remdesivir.
Nesta segunda-feira (22), o médico apagou o vídeo que havia publicado em suas redes sociais, mas o conteúdo enganoso segue com centenas de compartilhamentos no Facebook e foi marcado com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social.
Circula nas redes sociais um vídeo em que o cirurgião-geral Luiz Cristiano Maciel Cardoso, da Santa Casa de Caridade de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, afirma ter curado pacientes de Covid-19 com a administração de flutamida, remédio usado para tratar câncer de próstata. Porém, o Cremers (Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul) refutou a alegação e disse que se trata de “fake news”. Segundo o conselho, não há evidências científicas que comprovem que o medicamento seja eficaz contra a doença.
Em nota publicada em seu site, o Cremers informa que protocolou as denúncias recebidas sobre o conteúdo enganoso e que “dará as devidas providências sobre o caso junto ao Ministério Público Estadual”. De acordo com o vice-presidente da autarquia, Eduardo Neubarth Trindade, “a disseminação desse tipo de conteúdo tem preocupado a classe médica. Esse foi um tratamento experimental, não científico, que precisa ser averiguado pelos especialistas antes de informado à população sobre seu real benefício”.
A Santa Casa de Caridade de São Gabriel também destacou em nota em seu site que o fármaco não tem comprovação científica contra a Covid-19 e disse que desconhece o tratamento anunciado nas redes sociais. Segundo o hospital, “não há informações de que o médico tenha curado algum de seus pacientes nas dependências da Santa Casa”.
De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o único medicamento aprovado no Brasil com indicação aprovada em bula para o tratamento de Covid 19 é o remdesivir.
Medicamento. Indicado para o tratamento de câncer de próstata, a flutamida pode causar reações adversas no fígado, como indica a sua bula. Em 2004 a Anvisa também divulgou uma nota técnica que relata cinco casos fatais de hepatite fulminante em mulheres jovens que faziam uso da flutamida para o tratamento de alopécia, hirsutismo e acne.
Laura de Freitas, microbiologista e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) confirmou ao Aos Fatos que a droga tem uma importante toxicidade, e que pode causar a hepatite medicamentosa — uma grave inflamação do órgão devido ao uso inadequado da droga, geralmente pelo excesso da dose ingerida pela pessoa.
“Não dá para dizer que a flutamida é a cura para a Covid-19, assim como qualquer outro medicamento desenvolvido até agora”, disse.
Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e pesquisadora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), tem a mesma avaliação. “Não temos dados de modelos animais, tampouco estudos clínicos registrados no Clinical Trials sobre a flutamida para a Covid-19. Então, as evidências são incipientes e precisamos de dados robustos antes de sair alegando curas por análise de poucos casos ou realizando estudos apenas observacionais”, disse. O ClinicalTrials.gov é uma plataforma que reúne resultados de estudos clínicos privados e públicos conduzidos em todo o mundo sobre Covid-19.
Via: Aos Fatos