O que você vê no espelho?

“O diabo é o pai da mentira”. Quem é nascido e criado na igreja evangélica brasileira, certamente ouviu essa expressão algumas vezes durante a vida. Na verdade, mais do que nunca, precisamos analisar a palavra “diabo”com muita atenção, pois a cada dia que passa, mais e mais crentes têm servido de todo coração a uma perversa “lógica diabólica”, mesmo sem saber. Sim, pensando agradar a Deus estão permitindo que seus corpos estejam sendo usados por Satanás!

Você pode pensar que minhas palavras estão sendo duras demais, mas me permita fazer o que a Bíblia ordena quando nos provoca a “arrazoar”, ou seja, usar a razão ao expor razões ou pontos de vista. Consideremos, inicialmente, que a tradução literal da palavra grega “diábolos” seria “divisor”, “aquilo que divide” ou ainda, “o que separa”.

Esta palavra, para quem não sabe, é um adjetivo, acrescenta uma qualidade e nem sempre que aparece no texto sagrado está se referindo a um ser espiritual maligno assim como o termo “Satanás”. Tomemos como exemplo o texto de Mateus 16:23 onde o próprio Jesus fala para seu discípulo Pedro “afaste-se de mim, Satanás” – nesse caso aqui, Pedro não estava possesso ou sob influência de Satanás, mas estava agindo como “opositor”, “adversário” da verdade do Reino.

Essa questão está intimamente ligada a forma como alguns irmãos evangélicos tem agido em seu posicionamento político nesses difíceis tempos de polarização ideológica. O fato de disseminar pseudo-informações advindas de fontes duvidosas faz com que algumas pessoas ajam mesmo sem se dar conta, como “Diabo” – palavra que etimologicamente carrega o sentido de “aquilo que divide”. Defender palavras que não podem ser testadas pelo fogo da verdade é algo que deveria ser impensável a um seguidor ou seguidora de Cristo.

Em primeiro lugar, porque somos o povo que deveria ser conhecido pelo amor e não pode haver a mínima amorosidade ou afetividade positiva no coração daquele que se expressa ou se vê representado em um discurso de ódio deliberado e purulento. Em Marcos 12:34 nos deparamos com a constatação de que “a boca fala do que o coração está cheio”. Conhece esse texto? Então! Como podemos permitir que nossa língua seja usada pelo Diabo para causar divisão no corpo de Cristo através da propagação de mentiras?

Em segundo lugar, somos o povo cuja ancestralidade espiritual pregava e vivia a verdadeira comunidade. Em outras palavras, em Atos aprendemos que era possível ter “tudo em comum”, que a lógica da partilha e não do acúmulo administrava todas as áreas da vida: desde o pão, até o afeto, passando pelas casas de portas abertas e chegando aos recursos financeiros. Em que momento da estrada deixamos cair esse sentido de coletividade, minha gente? Por que deixamos de lutar de forma cidadã para que toda (sim, TODA) a população tenha vida digna e passamos a rotular como “comunismo”, de forma tão simplória, a urgente causa da justiça social que é muito maior que qualquer partido, sindicato ou movimento social?

Por fim, irmãos e irmãs, cujo sangue que corre nas veias é igual ao meu, posto que é o sangue de Cristo, não podemos esquecer que somos testemunhas da vida! Perceba a potência desse fato: nossa irmã Maria Madalena foi comissionada a anunciar a ressurreição aos demais discípulos…ela divulgou a verdade eterna de que a vida vence no final: nem a brutalidade do estado, nem a hipocrisia da religião e nem a própria morte podem segurar a vida plena, que enche a todo o cosmos. Não, a vida não se deixa conter! A sementinha brota arrebentando a terra dura e seca; ela ressurge e vira árvore grande que nos encanta, que dá alimento e nos fortalece, nos empurrando para seguir na caminhada, impulsionados pelo vento da divina Ruah.

Sendo assim, peço a você que me lê que considere um fato: defender políticas que valorizem e dignifiquem a vida humana, seja ela qual for, é ser discípulo de Jesus Cristo de Nazaré. Ser “simples como a pomba e prudente como a serpente” (Mateus 10:16) deve ser o lema de todo aquele que não deseja servir veneno em taças brilhantes a seus irmãos na fé. Divulgar mentiras é se igualar ao Diabo que age para dividir o corpo, desunir a família da fé, azedar a comunhão bendita dos que nasceram de novo. O desafio está lançado e mira na sua consciência: ao se olhar no espelho o que você vê: a face amorosa de Cristo ou o reflexo daquilo que causa divisão através de ardilosas mentiras?

Texto de Priscilla dos Reis Ribeiro -Facilitadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito/Núcleo Rio de Janeiro

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